21 novembro, 2014

Meu primeiro banho longo

Depois de 3 anos, hoje eu tive o meu primeiro banho longo. Foi o primeiro passeio da Anna pra dormir com o pai. "Eu sou forte, eu não vou chorar" foi o pensamento que me acompanhou o dia todo, desde a hora que eu acordei. Assisti meus programas preferidos na TV, que fica ligada 24 horas no Discovery Kids, cozinhei meu prato preferido sem ninguém me pedindo pra pegar algum brinquedo no alto, dormi por 4 horas seguidas na parte da tarde, assisti minha série preferida sem interromper o episódio nenhuma vez.
Tudo corria bem... Até que resolvi sair pra tomar um sorvete. Não tinha ninguém pra eu ajudar na escada, ou pra perguntar "vamos de carro, mamãe?", não tive que pegar na mão de ninguém pra atravessar a rua, não tive que prender ninguém na cadeirinha, não ouvi comentários engraçados a respeito das musicas que tocavam no rádio, não tive que mostrar cada cachorro que passava pra ninguém, aproveitei pra passar na farmácia e adivinha? Não tinha ninguém pra ajudar sair do carro. Ninguém me pediu um shampoo da Barbie, uma bala ou um chocolate no caixa. Minha conta foi 30% mais barata que de costume. Na faixa de pedestre, ninguém me explicou pela milésima vez, as cores dos sinais e esperou ansiosamente pra que ele ficasse verde e o bonequinho começasse andar. Eu não tive nenhum olhar simpático pro meu lado, daqueles que a gente recebe quando anda pela rua com uma criança linda.
Eu já estava no momento que antecede um surto motivado por tédio, quando vi lá de lá de longe, uma coisinha pequenininha, de cabelo preso, blusa rosa e melissinha no pé. Largou tudo, veio correndo e me deu um abração parecido com o que recebi quando fiquei 10 dias fora do país. Deus cuidando de todos os detalhes. Deus me dizendo que ela precisa conviver com o pai, que ela vai ficar 48 horas longe de mim, duas vezes por mês, eu ainda serei quem ela larga tudo e derruba no chão, eu ainda vou receber a maior manifestação de carinho verdadeiro, manifestação que alguns não receberam nenhuma vez na vida. Eu ainda vou ser mãe.
Voltei pro carro e chorei por uns dez minutos. Chorei porque eu tive saudade. Chorei porque os sorvetes de chocolate são infinitamente menos gostosos sem ela de boca suja e mão melada ao meu lado. Chorei porque eu tenho o amor maior do mundo e fiquei infinitamente grata a Deus por isso. Chorei porque sou mãe, mães choram com tudo.
Cheguei em casa, tomei um banho de meia hora, que eu não tomava há 3 anos, fiquei deitada e escrevi esse texto com uma certeza na cabeça: ser mãe é maravilhoso. Não. Maravilhoso não descreve. Ser mãe é algo que só quem é, entende. Eu poderia falar que trocaria mil banhos de meia hora, por ela aqui comigo, mas amar é isso aí: querer a felicidade do outro acima da própria. E assim eu termino esse texto, conformada, com saudade, torcendo infinitamente pela felicidade dela, sabendo que tô fazendo um drama, esperando ansiosamente pelas 18 horas de amanhã e principalmente, cheirando a shampoo da Barbie.

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